sexta-feira, 16 de março de 2012

Sobre Sabor

Pois, é CoisasTodas. Hoje ele se foi de vez. E eu me lembro bem do jeitinho que ele chegou. Lindo. Conversávamos sobre tantos assuntos, e por tanto tempo... Cheio de deliciosos mistérios. O maior deles era a quantidade de afinidade, de "convergências" e coincidências. Parecia incrível ter quase um irmão gêmeo. E um irmão cheio de más-intenções que, no fundo, eu conhecia. E adorava.
Fez-me, então, questionamentos dos mais pertinentes, sobre um relacionamento menor que eu estava tendo... Realmente não valia à pena e era melhor saber mesmo saber "o que é que o botafoguense tem". E eu fui. Fui milhares de vezes, no mesmo dia, no mesmo horário, nas mesmas circunstâncias, com o mesmo carinho. Pra ter visto tudo que vi, vivido tudo que vivi, sentido tudo o que senti. Não troco aqueles dias de amor por nada.
Ele não me amava só com gentileza: era com gentileza, posse, força, amor. Ele sabia colocar amor como ninguém. Até nos gestos mais brutos, mais rudes. Tinha amor na briga, no ciúme, e até nas discussões acaloradas com a participação especial dos vizinhos. Eu não sabia ter raiva dele, nem quando parecia lógico, ou coerente. Porque ele me pegava no colo, porque sabia terminar questionamentos duros e discussões com "Ah, é?!... Então me dá um beijo!" Ahhhhh, queridos leitores imaginários... Eu beijava. Beijos que não tinham fim, que tinham cor, paixão... Era amor com o corpo todo.
Só me arrependo da covardia, do meu intervalo. De não ter pego as tralhas logo no início e ido viver com ele, logo no segundo dia. Afinal, eu já sabia que sem ele não valeria a pena. Mais nada. Tão delicioso receber uma mensagem de 'bom dia' da pessoa que está deitada ali, do seu lado! Que pede licença pra usar o computador só pra te mandar um depoimento... Era o carinho que eu conheci. Esse era o homem que eu conheci. Que queria estar comigo em todos os lugares, todas as situações, que queria me levar pra torcida dele, e me acompanhar na minha, que queria tanto ter um pretinho comigo...
Eu larguei tudo por ele, e o faria quantas vezes fosse necessário. Brigaria com a mesma quantidade de pessoas, com os mesmos argumentos. Porque tínhamos o mesmo humor de manhã, e porque ele fazia bico de braços cruzados no chuveiro, até que eu MORRESSE de culpa e me rendesse. E não me deixava ir sozinha nem comprar cigarro no boteco da esquina. E porque a gente sempre queria dormir até mais tarde porque "não existia dinheiro no mundo que valesse acordar cedo pra trabalhar".
Éramos os dois tão encrenqueiros... Dois terroristas conversando e rindo. Até que eu me deitasse no seu peito, e ouvisse aquele coração batendo tão acelerado. "É tão bom ouvir seu coração bater", nunca me poupei de dizer. Como nunca poupei "te amo" e "tou morrendo de saudades".
Mesmo com três séculos passados, vou lembrar daquelas palavras: "O dia que você disser que tá esperando um filho meu... Você não tem noção, não! Eu vou ser o homem mais feliz desse mundo"...
Essas palavras vão seguir comigo sempre, como cada vez que confessou baixinho que me amava, e que gritou pra rua inteira. A forma com que o sol entrava pela cozinha naquela tarde quente da segunda-feira de Carnaval, quando eu fritava junto com os salgadinhos que ele me pedira... A cerveja gelada, o cigarro queimando no mármore e eu percebendo naquele beijo com gosto de vinho o quanto a felicidade era concreta e simples, simples, simples, simples...

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