quarta-feira, 30 de julho de 2014

Sobre o Antigo-atual Querer

Eu quero ele. E eu quero tanto que, dele, eu não quero nada. Nada que ele possa comprar. Os beijos dele são os mais apaixonantes, mas não os quero mais. Os planos dele são os mais impressionantes, mas eu finjo ter esquecido. Porque eu o amo feito um irmão, como quem ama o seu melhor amigo.
Eu quero ele. Eu quero tanto, que eu o quero com febre, pra me deitar ao lado de sua cama e derramar sobre ele todo o meu zelo, o meu apego de cuidar dele quando estiver doente. E depois, o quero com saúde, pra vê-lo fechar a porta e me dizer "adeus". Gosto da sensação de eternidade que tenho quando penso nele.
Eu quero ele. E não me importo que um dia, me abandone num terminal rodoviário, me obrigando a tomar um ônibus pra um desconhecido destino dentro do meu próprio ser. Porque eu sei que ele vai existir em todo canto dentro de mim, pra eu ter pra onde voltar.
Eu quero ele. Pra brigar por motivo nenhum e ficar em silêncio depois, olhando o mar. Sentindo saudades dele, mesmo ele estando ali e aproveitando cada segundo de presença. Bebendo cada gota das gargalhadas que ele dá, gaguejando os devaneios dos quais eu compartilho com afinco, obstinada. 
Eu quero ele. Mais ainda quando fica bravo comigo e me dá beliscões por baixo da mesa, pra que ninguém perceba e quase me mata de rir. Rio da sua discrição que grita. E choro com o sorriso dos seus olhinhos pequenos e lindos. Aquele sorriso enorme, dado com o rosto inteiro, quando fala de mim, nos seus raros momentos de fraqueza. É neles que ele deixa escapar que me ama. Esquece de esconder que também me quer.
Eu quero ele. E quero tanto que me contradigo! Eu volto atrás e quero aquele beijo. Mas quero o mais singelo, doce e simples. Salgado de lágrimas e mar. Na frente de um padre, depois de um "sim". Eu o quero nos meus dias. Pensei que queria dormir com ele numa noite quente de dezembro: descobri que queria mesmo acordar ao lado dele. Diariamente. Sem intervalos. Sem pausas.

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