sábado, 5 de dezembro de 2009

Sobre vida vuul-gar

Quem conhece, também sabe que tenho problemas familiares desde que nasci. Principalmente por não ter tido vontade de nascer e ter resistido na barriga de mamãe por bem mais de nove meses. Logicamente, isso não se encerraria do dia pra noite. Isso se arrasta por quase 19 anos!
Dessa vez, o buraco é bem mais embaixo. Mexeram com a única pessoa da família com quem não poderia mexer. A pessoa mais querida, a única com quem me identifico. Meu único tio. Ah, amados. Eu rodo a minha baiana.
Como assim deixar um diabético recém-operado, sem metade do pé, com fome e sem banho? Alguém mal pode se mexer e que sempre foi tão bom, não merece sombra do pedaço que ele está passando. Sempre trabalhou muito, sustentou duas filhas (uma administradora e uma atleta do Vasco), manteve caprichos da mulher gorda, porca e catimbozeira. E agora fica jogado numa cama, sozinho.
Isso é, no mínimo, revoltante. Nunca senti tanto ódio de alguém.
Talvez, eu passe mais tempo longe. Talvez, eu escreva ainda menos. Eu preciso cuidar dele, preciso fazer alguma coisa pela única pessoa que tinha coragem de ficar com a criança absurdamente gorda que eu era no colo e com toda a paciência. Ele brincava comigo e me ensinou a pescar. Uma das primeiras vezes que fui à praia, foi no colo dele. Não troco o amor, o carinho dele por nada no mundo.
É meu sangue. É por ele que sinto que não posso ter sido adotada. São os traços dele que eu tenho. Semana dessas, eu estava comendo alguma coisa e, antes de engolir, bebi um pouco de sei lá o que. Refrigerante, café. Sei lá. Meu amado esposo disse que achava nojento e sei lá o que. Quando fui vê-lo há mais ou menos um mês, percebi que ele fazia igualzinho: mastigava um biscoito e bebeu café por cima. É gostoso!! A gente está mastigando. Aí, bebe um pouquinho, engole o líquido e depois continua mastigando o que comia. Fica mais macio e mais gostoso!
É meu sangue de verdade. Temos semelhanças que não tenho com minha mãe. Somos igualmente conversadores e mentirosos. Não temos compromisso algum com a verdade. Ele me contava várias histórias absurdas. E eu levava mó fé em tudo! Mesmo depois de bem grande. Se era meu tio quem dizia, eu botava a mão no fogo.
Não me arrependo de nada. Só de não tê-lo pego pra cuidar antes. Eu o amo demais e não posso deixar que ele me deixe...

Nenhum comentário: