quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Sobre a Chicólatra | 1

" Quando, seu moço, nasceu meu rebento, não era o momento dele rebentar. Já foi nascendo com cara de fome, eu não tinha nem nome para lhe dar . Como fui levando, não sei lhe explicar . Fui, assim, levando ele a me levar . E na sua meninice, ele um dia me disse que chegava lá . Olha aí . Olha aí . Ai o meu guri, olha aí . Olha aí . É o meu guri . E ele chega . Chega suado, veloz do batente trazendo presente pra me encabular . Tanta corrente de ouro, seu moço, que haja pescoço pra enfiar . Me trouxe uma bolsa, já com tudo dentro: chave, caderneta, terço e patuá, um lenço e uma penca de documento pra, finalmente, eu me identificar. Olha aí . Olha aí . Ai o meu guri, olha aí . Olha aí . É o meu guri . E ele chega . Chega no morro com carregamento: pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador . Rezo até ele chegar cá no alto ; Essa onda de assaltos tá um horror . Eu consolo ele, ele me consola . Boto ele no colo, p’rele me ninar . De repente, acordo, olho pro lado e o danado já foi trabalhar . Olha aí . Olha aí . Ai o meu guri, olha aí . Olha aí . É o meu guri . E ele chega . Chega estampado, manchete, retrato com venda nos olhos, legenda e as iniciais . Eu não entendo essa gente, seu moço, fazendo alvoroço demais . O guri no mato, acho que tá rindo, acho que tá lindo de papo pro ar . Desde o começo eu não disse, seu moço ?! Ele disse que chegava lá . Olha aí . Olha aí . Ai o meu guri, olha aí . Olha aí . É o meu guri . "



Só mesmo o Chico pra ser pôr no lugar de uma mãe que tem um filho bandido . !

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